sexta-feira, 29 de novembro de 2013

"A verdadeira história do Pai Natal", por Colette Seigue

 

 
As ruas da cidade estão enfeitadas com iluminações coloridas. Há tantas luzinhas! Parece que todas as estrelas do céu caíram e ficaram presas nas janelas… O Gonçalo sonha… Enquanto olha pela vidraça para a neve branca e leve.
Esta noite o Pai Natal vai passar!
Vem então aninhar-se nos braços da sua mãe. Tem tantas coisas para lhe perguntar…
— Mãe, onde mora o Pai Natal? O que é que ele faz durante todo o ano, enquanto espera pela época do Natal? E como é que ele me vai trazer os brinquedos que eu pedi?
— Vá lá, tem calma, diz-lhe a mãe. Se quiseres levo-te ao país do Pai Natal! Vou contar-te a verdadeira história do pai Natal…
O Pai Natal vive numa casinha muito pequena que fica no meio da neve e dos glaciares, longe, muito longe daqui. Está tão bem escondida entre os pinheiros, que ninguém consegue vê-la. É uma casinha muito quentinha e muito acolhedora porque o Pai Natal é muito sensível… Mas, nunca lá entrou ninguém! Ele é um velhinho bondoso, mas não gosta de curiosos…
— Mãe, se eu pudesse espreitar pela janela, achas que conseguia ver o piano elétrico que pedi?
— Oh! não. Irias perturbar o Pai Natal: na sua oficina, diante da velha banca de trabalho, com as ferramentas, que continuam sempre novas, ele fabrica os brinquedos para todas as crianças do mundo. Ele aplaina, corta, martela, cola, pinta… Ah! Ele tem muito trabalho!…
Mas o Pai Natal acaba de olhar para o calendário…
“Como? Hoje é dia 24 de Dezembro? Já?” Há um ano que ele trabalha, todos os dias, para que os brinquedos de todas as crianças do mundo estejam prontos. “Rápido, o meu cesto! Mas o meu casaco está cheio de pó e as minhas botas precisam de ser engraxadas… Ah! Ai Ai! Não tenho tempo…”
Com uma escovadela, a poeira desaparece e o casaco fica novamente bem vermelho, a gola recupera a cor da neve e as botas brilham como um espelho.
A porta abre-se ruidosamente com um golpe de um casco.
“Temos fome!”, gritam “Stem” e “Schuss”, as duas renas do Pai Natal, as duas únicas renas do mundo que sabem falar.
“Não me esqueci de vós! Tenham um pouco de paciência, as duas… Tenho de calçar as botas”, resmunga o Pai Natal.
O Pai Natal tem bastante dificuldade em calçar as suas botas. Há um ano que não o fazia e os seus pés já não estavam habituados a um espaço tão estreito… Mas, por fim lá consegue! Lá vai ele ter de sair da sua casinha… ela é tão quentinha e tão acolhedora! E lá fora, naquele grande frio glacial, a neve é tão espessa! E ainda por cima é preciso levar aqueles embrulhos todos… Há tantos e o cabaz é tão pesado!
— O que é um cabaz?, pergunta o Gonçalo.
— É um grande cesto em vime onde o Pai Natal leva todos os brinquedos. Para caminhar, ele põe-no às costas. Vês como o cesto vai carregado!
Apesar da neve espessa e do frio, “Stem” e “Schuss” estão radiantes: é noite de Natal! Elas vão ter a mais bela saída do ano. O Pai Natal prepara-as com todo o cuidado. E, enquanto as atrela, acaricia-as com suavidade. Depois, carrega o seu trenó mágico com embrulhos multicolores que nunca mais acabam! Será que já estão todos? “Não me posso esquecer de ninguém! Não poderemos voltar para trás, porque esta noite vamos estar muito longe!”, diz ele às suas renas.
— Diz-me, mãe, ele vai passar por nossa casa?
— Claro! O Pai Natal não se esquece de ninguém…
Chegou a hora da partida! O Pai Natal comanda as suas renas. “Juntas, juntinhas, voai, voai, minhas queridinhas!” E logo o trenó sobe em direção às estrelas.
Um último olhar para a sua pequena casinha, para verificar se as luzes estão apagadas, e aí vão eles pelo céu escuro… Ao longe, o trenó luminoso parece-se com uma estrela cadente que tilinta como uma campainha: “Tlintlim! Tlintlim!”. O Pai Natal também está muito contente. Por isso canta a canção de Natal que ensinou a “Stem” e a “Schuss”, as duas únicas renas do mundo que sabem cantar. É uma canção tão bonita que embala a Lua e afasta as nuvens…
— Oh! mãe, parece que estou a ouvir…
Depois de uma viagem muito, muito longa, o trenó chega à cidade adormecida e fica a pairar por cima dela. De repente, para, como por encanto, ao lado do telhado de uma grande casa. “Stem” e “Schuss” também sabem fazer alguns truques de magia! O Pai Natal olha para a casa silenciosa. É preciso que todas as luzes estejam apagadas! Então, carregando o seu cesto, ele entra na chaminé! Mas resmunga um pouco…
“Ui! Ou a minha barriga está muito grande, ou este ano as chaminés estão demasiado estreitas! Vamos lá a uma escorregadela por aqui abaixo!”
— E eu escondia-me e ficava muito quieto a ver o Pai Natal, diz o Gonçalo!
— Oh não! Ouvi dizer que ele não distribui brinquedos aos meninos que não estão a dormir…
Está bem escuro dentro de uma chaminé! Felizmente o pinheiro tem muitas luzinhas acesas. Senão como é que o Pai Natal descobriria o caminho?
“Ora vejamos! Não me posso enganar. A Carolina pediu-me uma casinha de bonecas e o Paulo um robô. Hum!… E a Camila, a bebé da casa, já não me lembro… Ora vamos lá a ver a carta com os pedidos… É isso: um ursinho de peluche! E ainda um osso com música para Piloto, o cãozinho…” E assim, durante toda a noite, o Pai Natal passa pelas casas de todas as crianças do mundo.
Sabias que há crianças que põem duas cenouras junto à chaminé para “Stem” e para “Schuss”, as renas do Pai Natal?
O Pai Natal terminou a sua viagem. “Adeus, meninos e meninas! O dia está a começar: temos de voltar para casa! “Juntas, juntinhas, voai, voai, minhas queridinhas!” E o trenó do Pai Natal eleva-se no ar com suavidade. Atrás dele, uma grande nuvem cor-de-rosa esconde-o até a cidade ficar bem longe. As crianças estão quase a acordar e o Pai Natal não se quer mostrar. Ele ainda tem uma longa viagem a fazer até à sua pequena casinha, longe, longe, muito longe daqui.
— Como eu gostaria de andar naquele trenó, diz o Gonçalo, a sonhar…
Depois da sua longa, longa viagem de regresso, o Pai Natal chega finalmente a casa. Deixa-se escorregar com prazer sobre a poltrona. Está tão cansado que nem descalçou uma das botas… Mas sorri, muito feliz. Ele sonha com a alegria de todas as crianças do mundo que, agora, rasgam os papéis dos embrulhos para descobrirem os seus brinquedos!
“Acho que não me esqueci de ninguém…”
“Stem” e “Schuss” estão um bocadinho tristes. Elas olham para o cesto vazio com alguma pena… Mas também estão muito orgulhosas por terem galopado tão bem por entre as estrelas. E que elas conhecem perfeitamente todos os caminhos do céu…
— Mãe, será que eu posso pôr duas cenouras perto da chaminé?, pergunta o Gonçalo a suspirar.
Chegou a noite de Natal…
O Gonçalo pôs os seus sapatos junto à chaminé e deixou uma pequena vela acesa perto do pinheiro. O Pai Natal precisa de luz para ler a carta com os seus pedidos… Para que não se esqueça de nada!
 
Querido Pai Natal,
 
Gostaria de ter uma bicicleta de montanha para subir e descer as colinas, e aquele livro que vi na biblioteca, e um piano, e uma caixa confortável para que o meu ratinho branco fique bem quentinho quando chove.
                                                                                         Obrigado, Pai Natal!
                                                                                                  Gonçalo
 
O Gonçalo sonha… Que história! E como esta é uma história verdadeira, deve ser um verdadeiro Pai Natal…
 
Colette Seigue; Téo Puebla
A verdadeira história do Pai Natal
Porto, Porto Editora, 1995
Adaptado