quarta-feira, 9 de outubro de 2013

História do dia: "Caracóis Portugueses"


Caracóis Portugueses
Li, há tempos, num jornal, que ia disputar-se, em Inglaterra, a primeira corrida internacional de caracóis. Fiquei todo entusiasmado e fui logo à minha horta contar a notícia aos caracóis que lá tenho. 
Eles, uns pasmados, não sabiam de nada nem queriam saber. Fiquei muito chocado: 
- Então vocês não sentem vontade de ir a Inglaterra, para ganhar a corrida e mostrar ao mundo o que valem os caracóis portugueses? 
- A Inglaterra? A pé? - quis saber um caracol caracolinho, empoleirado numa vagem de ervilha. 
Expliquei que iríamos, concorrentes e eu (o treinador, claro!), de avião. Mas eles não me ligaram. Debaixo de um rebento de alface, uma vozinha de caracol sugeriu: 
- Isso da corrida fica para o ano... 
Virei-lhe as costas, desolado. Já não queria ser treinador daquela equipa de paspalhões. 
Passados dias, voltei à horta por causa de uma salada de alface. Ia na intenção de não dar conversa aos hóspedes da hortaliça. Mas onde é que eles estavam? Tinham desaparecido. Um grilo contou-me: 
- Partiram ontem para Inglaterra. Iam que nem setas. 
- Que nem setas talvez seja exagero - comentei, tentando sorrir. 
- Sim, como setas ou até como o vento - insistiu o grilo Grilarim. - Os caracóis desta horta são uns empatas, quando se trata de tomar uma decisão, mas assim que se resolvem, parece que têm asas. Ia com eles a galinha pedrês, aquela que diz ?Eu sou a galinha pedrês, que vos salta em cima e vos faz em três". Eles, assim que a ouvem, até voam. 
E não é que ganharam a corrida?! Os dez primeiros lugares preenchidos por caracóis portugueses. Um êxito que não se imagina. 
Mas, afinal, o júri lá de Inglaterra eliminou-os e deu o trofeu da vitória a um caracol inglês, o 11º da corrida, com a desculpa de que os caracóis portugueses não tinham sido inscritos com antecedência e que levavam uma galinha atrás deles... Invejas! 
De qualquer forma, reconhecidos internacionalmente ou não, foram os dez caracóis da minha horta os verdadeiros, os únicos vencedores. 
Bendita couve portuguesa que têm comido!


Por António Torrado